segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Projeto Arco Norte: ambicioso plano de aeroporto internacional no norte do Paraná permanece engavetado e esquecido

"Cargueiro McDonnell Douglas MD-11 FedEx pousando - ©SAM CHUI"

    Com as recentes discussões sobre a infraestrutura do atual aeroporto de Londrina, a problemática em relação ao descomissionamento das antigas taxiways e a ampliação da pista, nos faz lembrar de um ambicioso projeto que foi engavetado: o aeroporto internacional de cargas do Norte do Paraná.

"Raio de interesse comercial e logístico do Projeto Arco Norte"

O chamado Projeto Arco Norte surgiu em 2005 como uma proposta visionária, com o objetivo de criar um novo aeroporto internacional de grande porte, voltado para cargas e passageiros, em uma área estratégica entre os municípios de Londrina, Cambé, Ibiporã, Rolândia, Arapongas e Apucarana. A intenção era atender à crescente demanda logística e aérea da macrorregião Norte Central do Paraná, com abrangência potencial para parte do estado de São Paulo e o Mato Grosso do Sul.

"Raio do Sítio Aeroportuário"

    O plano previa uma pista de 4.000 metros de comprimento por 60 metros de largura, com capacidade para receber aeronaves de grande porte como Boeing 747 e Antonov An-124, além de um terminal de cargas com integração multimodal para transporte rodoviário e ferroviário. A ideia era transformar o local em um centro logístico nacional, descentralizando operações dos grandes hubs como Viracopos e Galeão, e promovendo o desenvolvimento de um parque industrial no entorno.

Instituto de Desenvolvimento de Londrina

    Estudos preliminares realizados pelo Instituto de Desenvolvimento de Londrina (CODEL) e entidades empresariais indicavam que o eixo Londrina–Maringá possuía uma das maiores concentrações de PIB e produtividade agrícola e industrial do estado, com forte vocação exportadora. A viabilidade técnica e econômica foi posteriormente incluída em um escopo de análise da USTDA (U.S. Trade and Development Agency), agência norte-americana de apoio ao desenvolvimento de infraestrutura.

"Parque Estadual Mata dos Godoy"

    Apesar do apoio empresarial e da articulação de lideranças políticas da região, o projeto enfrentou forte resistência de setores ambientais e de parte da sociedade civil. A principal crítica estava na localização proposta: uma área rural ao sul de Londrina, nas proximidades do Parque Estadual Mata dos Godoy, unidade de conservação de Mata Atlântica com alto valor ecológico.


    Entidades como a ONG Meio Ambiente Equilibrado (MAE) e o movimento “Arco Norte Sim! Perto da Mata, Não!” alertaram sobre os impactos ambientais que o projeto causaria em uma zona de amortecimento estimada em mais de 3.000 hectares. Os riscos incluíam degradação da biodiversidade, comprometimento de mananciais, desequilíbrio climático e ameaça a espécies nativas da flora e fauna. O Conselho Regional de Biologia da 7ª Região (CRBio-07) emitiu moção contrária à instalação do aeroporto nas imediações da reserva.


    Em contrapartida, setores da indústria e da construção civil, representados por entidades como a ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina), defenderam que a localização era tecnicamente adequada, considerando fatores como topografia plana, ventos predominantes favoráveis e proximidade com rodovias de escoamento logístico, além de já contar com parte da área desapropriada e designada por decreto municipal.


    Mesmo assim, o impasse se acentuou. Em março de 2014, o então prefeito Alexandre Kireeff revogou o decreto que declarava a área como de utilidade pública, acolhendo recomendação do Ministério Público e reconhecendo os questionamentos ambientais. A decisão representou, na prática, o arquivamento do projeto sem um novo local definido e sem previsão de retomada.

    Desde então, o Projeto Arco Norte permanece engavetado, sem avanços concretos. A falta de consenso entre os agentes políticos, a ausência de novos estudos ambientais e a perda de tração institucional inviabilizaram sua continuidade. Em um momento em que se discute a saturação da atual infraestrutura aeroportuária de Londrina, a lembrança desse projeto adquire nova relevância, reacendendo o debate sobre soluções logísticas de longo prazo para o Norte do Paraná.

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