A 19ª edição da EAB Air Show ocorreu entre os dias 21 a 25 de Outubro de 2016 |
NA T6 - PR-TIK e o PR-ATB ao fundo |
Kodiak 100, PR-KDK, um dos astros da feira |
De início o pensamento estava focado na correria que seria para participar da feira, pois todos os dias teríamos que ir e voltar de Maringá para Londrina em um ônibus fretado pela UNOPAR. Acredite, isso foi a coisa mais irrelevante no final, pois com os dias trabalhados esse cansaço seria sobreposto pela satisfação em ser útil.
Éramos um grupo não muito grande de voluntários, alguns com muita experiência na área e outros com pouca ou quase nenhuma. Eu estava no meio termo, afinal 5 anos estudando aviação, muitos outros na simulação e o contato físico com as máquinas te ensina como tocar em uma aeronave sem danificá-la ou por outras pessoas em risco.
Pilatus PC-12 |
Pátio da feira |
Fomos uma equipe bem versátil e unida, revezávamos e cada um fazia um pouco do trabalho do outro para todos terem a mesma oportunidade de aprender com tudo o que acontecia ao nosso redor. Foram dias maravilhosos, tínhamos os melhores “chefes” que poderíamos ter naquele momento, sempre motivados, precisos e amigos. Creio que, no geral, não os decepcionamos, fizemos nosso trabalho com sorriso no rosto, com braços prontos para puxar/empurrar aeronaves e manter seguro as instalações e a proximidade do público com as aeronaves em movimento.
Efetuando mais um balizamento para ingresso na feira |
Na função de balizador eu não sabia qual seria o tipo de aeronave que iria balizar, somente tinha a escuta do Solo Maringá dando instruções para a aeronave e meus “chefes” ao lado confirmando a vinda da mesma e supervisionando o meu trabalho. Foi então que o “Kingão” surgiu na taxiway e meu coração disparou com o pensamento “Cara, vou balizar um B200”... Pode parecer bobo, mas estar frente aquela máquina com raquetes sinalizadoras é uma emoção e tanto. O ápice da emoção foi quando fiz sinal a ela reduzir e parar totalmente quando os motores Pratt & Whitney PT6 deram o último rugido para a parada total e assim que as hélices pararam de girar me senti realizado e orgulhoso de ter feito aquele pequeno serviço de maneira satisfatória. Porém, como não era tolerado qualquer distração, não foi possível alguém registrar meu primeiro balizamento.
Cessna C510 Mustang, "Quente" PR-HOT |
Já ia me esquecendo de narrar o primeiro contato com uma “peça de museu que voa” na qual tivemos o privilégio de cuidar e tocar. O grande NA T6 de Tike Bazaia, astro daqueles dias, todos queriam ver a grande aeronave treinadora que fez parte da história da aviação mundial e ainda nas cores originais da marinha americana. Além do lindo Extra 300 do filho de Tike, Beto Bazaia, o RV8 do CMTE Arnaldo Ferrari e o Extra 230 de Luiz Dell’Aglio, que marcaria nossas almas e corações para sempre.
Meu último registro fotográfico do PT-ZUN de Luiz Dell'Aglio |
Quando as aeronaves já estavam posicionadas no quadrante próximo ao nosso “Q.G” eu registrei a última foto do PT-ZUN que logo sairia para apresentar seu show aéreo. Todos estavam felizes, todos animados, tudo estava completamente normal, todos conversando, rindo e ansiosos para as apresentações que estavam programadas. Fui transferido de função e tive que ajudar a ordenar o fluxo de carros na rodovia que da entrada para o aeroporto, feira ou retorno para a cidade de Maringá.
Esquadrilha da Fumaça no pátio de Maringá |
Recebemos ordens de abandonar nossa função e retornar para a feira, ao voltar, percebi uma pequena correria dos membros organizadores e vi algumas pessoas chorando, apreensivas e com olhar vazio, alguma coisa aconteceu...
Fui informado então que uma aeronave acabara de se acidentar, a mesma estava se apresentando ao público e ao saber que era o Extra 230 do CMTE Dell’Aglio rapidamente a emoção veio em cheio transbordando pelos olhos, somando a energia tensa que acabara dominando o local, porém não poderia desanimar em um momento tão crucial, continuei meu trabalho de cabeça erguida, embora abalado e em um estado de choque pelo ocorrido, estava disposto a garantir a segurança da feira e dar forças a quem precisasse naquele momento.
Tudo foi passando como um filme na cabeça, a imagem do Dell feliz com os outros comandantes não saia da cabeça e toda hora reflexões vinham em mente sobre a fragilidade da vida, era algo impossível de não pensar naquele momento. Foi impossível não ficar abalado naquela situação, dávamos forças uns aos outros, aguentamos firmes e garantimos a segurança do evento em pleno código vermelho.
O momento mais triste daquela fatídica tarde foi, devido a rapidez das informações, ter recebidos fotos do local da queda e dos destroços. Vimos naquelas imagens o pior, a perda de alguém que por amor partiu para o plano superior fazendo o que mais gostava. A dor foi grande e atingiu em cheio nossos corações, pois espelhávamos o acontecido em nós mesmos e em nossos familiares que sempre se preocuparam no perigo das atividades aéreas nos alertando sobre a fragilidade da vida. Em um momento estamos bem, felizes, fazendo o que mais gostamos e em outro deixamos essa vida para os braços de Deus. O melhor que podíamos fazer naquele momento era orar pelo Dell e garantir a segurança das Operações, foi o que fizemos.
No Domingo, último dia de Operações, abaixamos as bandeiras a meio mastro e seguimos para nossas funções como mais um dia normal, ou pelo menos próximo disso, fizemos o máximo possível para que continuássemos atuando apesar do luto que estávamos sentindo. Olhei para o céu e vi a beleza que fazia, um sol tímido entre nuvens que mais cedo provocaram um leve e passageiro chuvisco, foi nesse momento que fiz mais uma prece a Ele por estar ali com saúde e disposição para mais um dia de trabalho.
Recebemos o filho do Dell, prestamos homenagens a família e transmitimos forças devido à perda de um pai querido como era por todos.
Acho que não conseguiríamos ter forças se não fosse o nosso querido locutor Vadico que mesmo sentindo a perda de um grande amigo colocou ótimas músicas que ao longo daquele domingo foi nos motivando a continuar nosso trabalho de cabeça erguida e novamente com disposição. Afinal, era o nosso último dia, não sabemos se ano que vem nos reencontraremos e assim fizemos nosso trabalho até a finalização com uma linda homenagem da Esquadrilha da Fumaça ao amigo Dell.
Super Tucano A-29 nº 6 da Esquadrilha da Fumaça |
Agradeço imensamente a todos que passaram pelo meu caminho naqueles dias de feira, todas as novas amizades e os novos ensinamentos. Vivemos dias extremos de alegria e tristeza, derramamos nosso suor em troca de toda experiência e aprendizado único que poucas pessoas tem o privilégio de ter. O que fica aqui no peito é a saudade dos amigos, do trabalho e também a certeza que nos próximos anos, se Ele permitir, estarei novamente na equipe com um grande sorriso no rosto para ajudar no que for possível.
Vídeo Bônus: EAB 2016 - Operações Aéreas
OPERAÇÕES AÉREAS EAB 2016!!!
Por Fábio Faria, o "Miudinho".