sexta-feira, 25 de julho de 2014

Uma breve história do Airbus A310-304 da Aerocancun que passou por Londrina em 1997

      Em Londrina, no ano de 1997, um Airbus A310-300 da Aerocancun pousou e decolou do Aeroporto Governador José Richa desafiando o comprimento da pista de pousos e decolagens, do pátio principal e a opinião de muitos usuários do aeroporto. Pouco se sabe sobre a sua curta passagem pela cidade, não há muitos registros fotográficos e relatos, sabe-se que foi um voo fretado para Orlando pela Ilha do Mel Agência de Viagens e Turismo e o fato memorável foi que devido ao tamanho da aeronave houve dificuldade no desembarque dos passageiros, pois a escada que foi utilizada não era adequada ao tamanho da aeronave e a solução encontrada foi um improviso de escadas acopladas, emendas e soldas com canos e chapas de aço feito às pressas por um serralheiro enquanto os passageiros aguardavam dentro da aeronave.
"Desembarque dos passageiro no solo de Londrina"

Idas e vindas
"O 'nosso' A310 nas cores da Air Libertie como F-GHEJ"
      O Airbus A310-304 da Aerocancun nasceu em Toulouse na França, foram executados testes de voo com a matrícula F-WWCN em março de 1990, após isso ele passou para a Air Libertie em Maio de 1990, com a matrícula F-GHEJ e por lá operou sete anos até passar para a Aerocancun, onde foi registrado primeiramente como VR-BQU em Fevereiro de 1997. No mesmo ano de 1997, em Março, ele passou para a Adorna Airway com a mesma matrícula e retornando oficialmente à Aerocancun em Novembro, com nova matrícula VP-BQU quando veio a Londrina em Julho.

"O Airbus A310-300 nas cores da Passaredo como PP-PSE"
      Apenas 6 meses depois, em Maio de 1998, ele retornou inteiramente à ILFC (International Lease Finance Corporation), uma empresa que faz o leasing de aeronaves, com a matrícula N535KR e permaneceu por apenas um mês e alguns dias passando para a Passaredo brasileira em Junho de 1998 e ficando por lá durante um ano e três meses carregando passageiros brasileiros. Em Setembro de 1999, com nove anos de idade, ele passou para sua última pertencente onde terminaria toda sua história, a Yemenia Airway que operou a aeronave por 10 anos com a matrícula 7O-ADJ.


O trágico acidente com o voo Yemenia 626
"A última pintura na fuselagem do 'nosso' A310".
      Era madrugada, exatamente às 02 horas e 30 minutos local no Oceano Índico ao norte da costa de Grande Comores, o Airbus A310-300 da Yemenia Airway, de matrícula 7O-ADJ, voava do Aeroporto de Marseille na França para o Aeroporto Internacional Príncipe Said Ibrahim na capital de Comores, fazendo uma escala técnica no Aeroporto Internacional de Sana no Iêmen carregado com 153 almas a bordo, sendo que, destas, 11 eram tripulantes. Tudo parecia normal no voo 626 que estava em procedimento de aproximação para o pouso em Prince Said, executando o procedimento "Circle-to-Land" da pista 20, quando repentinamente a aeronave perdeu contato com os controladores de voo vindo a colidir com o Oceano Índico e vitimando 141 passageiros e os 11 membros da tripulação, deixando apenas uma jovem sobrevivente.

A única sobrevivente     
       Milagrosamente apenas uma sobrevivente foi encontrada, Bahia Bakari de apenas 12 anos na época,  ela sobreviveu na escuridão agarrada aos destroços da aeronave que flutuavam em meio aos corpos dos passageiros no mar. Bahia viajava acompanhada da mãe que estava a bordo da aeronave, segundo a jovem, após o acidente ela ouviu outros passageiros gritando por socorro durante algumas horas, porém os gritos silenciaram-se e ela passou cerca de nove horas flutuando no mar até ser resgatada por pescadores locais e lanchas enviadas pela Autoridade de Grande Comores.

"Bahia Bakari na época com 12 anos e a única sobrevivente"
       A Franco-Comorense, sobreviveu em condições improváveis, não havia iluminação no Oceano, ela não vestia nenhum traje especial para flutuar nas águas do Índico e ficou cerca de 5 horas na escuridão até o amanhecer do dia e ser resgatada algumas horas depois passando cerca de 9 horas a deriva no oceano. Após o resgate ela foi enviada em um jato particular para Paris onde recebeu os devidos tratamentos, hoje vive uma vida normal e possui um livro onde conta sua história, intitulado de "Moi Bahia, la miraculée" (Eu sou a Bahia, a garota milagrosa), publicado por Jean-Claude Gawsewitch Éditeur em 2010.

Investigações
      A Agencia Nacional de Aviação Civil e da Meteorologia de Comores estava encarregada da investigação. O Bureau d'Enquêtes et d'Analyses pour la Sécurité de l'Aviation Civile (BEA) enviou uma equipe de investigadores acompanhados por especialistas da Airbus, para assistir nas investigações das causas do acidente juntamente com a equipe do Iêmen enviada para Moroni, enquanto um comitê, comandado pelo Ministro de Transportes do Iêmen foi formado para a investigação. As autoridades de Comores e do Iêmen sugeriram que as causas preliminares da investigação indicavam que o acidente culminara de um erro da tripulação.

      Em Novembro de 2009, a Yemenia anunciou que estavam em busca de terceiros para a investigação do acidente, acusando a BEA de ser tendenciosa e querer arruinar a reputação da Yemenia Airway culpando-a pela péssima manutenção e treinamento dos tripulantes da própria empresa, além disso a Yemenia afirmou que a investigação da BEA “Atacavam a reputação do Iêmen, noite e dia". Dois anos mais tarde, em 2011, a BEA criticou as autoridades de Comores, dizendo que eles não estariam liberando o relatório de uma maneira devidamente correta e omitindo fatos para preservar a imagem do país e da companhia aérea.

"Destroços da Aeronave, parte da Deriva".
      Somente no dia 25 de Junho de 2013, o diretor da Comissão de Investigação de Comores, Bourhane Ahmed Bourhane, anunciou que “o acidente foi causado devido a uma ação inapropriada por parte da tripulação” durante “uma manobra desestabilizada”, ou seja, um grave erro dos pilotos, que ao executar uma curva desestabilizada, trouxe a aeronave para um estol (perda de sustentação) que não poderia ser recuperado. Após o anúncio, grupos de familiares das vítimas reuniram-se para uma manifestação em Paris em protesto por relatório final mais conciso e que acusassem os verdadeiros culpados da tragédia. De acordo com o Yemen Post, o Iêmen suspeitava que a aeronave fora abatida, porém não houve nenhuma evidência disto.

Histórico de Matrículas (registros da aeronave):
"Airbus A310-304 - MSN 535 (Número de Construção) - Testado pós-fabricação com a matrícula F-WWCN em 23/03/1990".

Mais algumas fotos do até então VP-BQU, da Aerocancun em Londrina


"Após o pouso o Airbus A310 seguiu o carro 'Follow-me' da Infraero até a posição de estacionamento"

"O VP-BQU utilizou uma grade área do pátio devido ao seu tamanho"

"Desembarque das malas e dos passageiros"

"Estacionando no Pátio de Londrina"


"Desembarcando as malas dos passageiros"

"As "Gambiarras" necessárias para que conseguissem desembarcar as malas"

"Alinhado na Pista 31"
Agradecimentos
    Agradecemos aos leitores que incentivaram-nos a penetrar mais afundo na tragédia do voo Yemenia 626 e a história do Airbus A310-300 que um dia já pousou na cidade de Londrina e pedimos que quem souber mais detalhes, tiver mais fotos e querer saber mais sobre a histórias dos gigantes que passaram por Londrina, não deixe de nos comunicar e comentar!

Créditos e Referências
FOTOS:
     Os créditos ao TMA Londrina foram cedidos pelo Sargento Gilmar dos Santos Abreu, Professor Jonas Liasch Filho e Renato C. Marques, ao antigo blog do Aeroporto de Londrina pertencente ao Matheus que uniu-se ao TMA Londrina há algum tempo. Agradecimento especial e os devidos créditos por mais imagens do A310 no Aeroporto Governador José Richa ao Wilson Junior, editor-chefe do LDB Spotter pelas imagens do A310 publicadas em seu blog, acesse clicando aqui para ver os registros originais. E também ao fotógrafo e editor Rodolfo Ricieri que nos brindou, não somente com as imagens do Airbus A310 da Aerocancun, como fotos-relíquias de aeronaves e do aeroporto de Londrina no passado e ao Luis Henrique Amadeu (LuisUEL) pelas fotos e demais informações. A maioria das fotos foram remasterizadas por nossa equipe, ou seja, "melhoradas" digitalmente eliminando um pouco da velhice e a falta de foco para uma observação mais confortável.

Atualizações
      Após a publicação deste artigo, caso recebamos informações extras, serão publicadas abaixo.
  • Atualização do dia 26 de Julho de 2014: Segundo o Luis Henrique Amadeu, pela fanpage do TMA Londrina no Facebook, nos informou que o voo em Londrina da Aerocancun, na época matricula VP-BQU, e o fiasco do problema com as escadas para o desembarque dos passageiros ocorreu devido a operadora, a Agência Ilha do Mel, que quis antecipar o voo para Orlando em um dia para ser a primeira agência a fretar um voo internacional com saída do Aeroporto Governador José Richa, pois outra agência, a Albatroz Turismo, havia fretado um Boeing 757-200 também com destino a Orlando, o que ocorreu um dia após a saída do A310. A operado havia mandado um pessoal até Guarulhos para medir a altura da porta principal da aeronave, todavia a medição foi feita com a aeronave completamente carregada de combustível e quando a mesma chegou em solo londrinense a aeronave estava os tanques somente com combustível suficiente pra Guarulhos/São Paulo e o Aeródromo alternativo e devido ao menor peso, a altura da porta, anteriormente medida, foi alterada e a escada que tinha sido fabricada especialmente para o voo possuía uma altura inferior a porta, assim, necessitando de um improviso às pressas.

REFERÊNCIAS: 
  • LIASCH, Jonas. Algumas curiosidades aeronáuticas - II. Disponível em <http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/2009/05/algumas-curiosidades-aeronauticas-ii.html>. Acesso em: 21/07/2014.
  • Airfleet. Operators of the aircraft. Disponível em <http://www.airfleets.net/ficheapp/plane-a310-535.htm>. Acesso em: 21/07/2014.
  • Matheus. Airbus A310, DC-10 e Boeing 757 em Londrina. Disponível em <http://aeroportolondrina.blogspot.com.br/2010/12/airbus-a310-dc-10-e-boeing-757-em.html>. Acesso em: 22/07/2014.
  • THE GUARDIAN. Associated Press in Le Bourget - Yemenia plane crash: only survivor of Flight 626 is reunited with father. Disponível em <http://www.theguardian.com/world/2009/jul/02/yemenia-plane-crash-survivor>. Acesso em: 22/07/2014.
  • Wikipedia. Yemenia Flight 626. Disponível em <http://en.wikipedia.org/wiki/Yemenia_Flight_626>. Acesso em: 22/07/2014.
  • BBC News. Survivor speaks of Yemenia crash. Disponível em <http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8129398.stm>. Acesso em: 22/07/2014.
  • RANTER, Harro.  Yemenia A310 stalled into the sea during unstabilized circle-to-land approach. Disponível em <http://news.aviation-safety.net/2013/07/04/report-yemenia-a310-stalled-into-the-sea-during-unstabilized-circle-to-land-approach/>. Acesso em: 22/07/2014.
  • Planespotter.net. 7O-ADJ Yemenia - Yemen Airways Airbus A310-324 - cn 535 - Operator History.  Dinponível em <http://www.planespotters.net/Production_List/Airbus/A310/535,7O-ADJ-Yemenia-Yemen-Airways.php>. Acesso em 23/07/2014

3 comentários:

  1. Excelente post!!! Parabéns Fábio!!!

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  2. Muito obrigado Adriano, sempre contribuindo para o nosso querido blog e a história do Aeroporto de Londrina! Abraço!

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  3. Viajei em 97 do Rio para Orlando em um aerocancun igual a esse da foto de Londrina. Pelo que entendi pesquisando no google, a aerocancun só pussuia dois airbus em 97: esse que pousou em londrina e outro com a pintura diferente verde. Vocês poderiam confirmar isso? Gostaria de saber se eu viajei na aeronave que se acidentou. Grato.

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